Já tinha escrito uma homenagem ao dia das mães em meu blog,mas acabei sendo desafiado a escrever algo aqui no luz, pois ao saber que nenhum texto sobre as mães tinha sido escrito quis assumir essa deliciosa "responsabilidade".
Não foi fácil, já estava praticamente "desligado" do dia das mãe, já tinha dado os parabéns a dona Ignez e vi todos seus 7 filhos fazerem o mesmo, mas sei que quando desejamos algo é só fechar os olhos e pedir inspiração a Deus e Meishu Sama que eles nunca falham.
É muito triste quando um dia de festas não tem justo o maior motivo da festa, no ano passado, neste mesmo dia, Cidinha e eu fizemos umas flores da luz, colocamos num cesto e saimos distribuindo os pequenos mimos para os vizinhos, foi algo muito gostoso e que certamente vou lembrar por toda a vida.
Lembro bem que em uma das casas só havia um senhor - bastante solitário - na varanda e quando Cidinha fez sua bem humorada pergunta: Tem alguma mãe aqui? Ele respondeu que não... que estava sozinho.
E estava mesmo, não lembro quantos anos tinha aquele senhor, mas já havia perdido algumas mães ao longo da vida e certamente não se sentia com muita luz para comemorar aquele dia. Mas comemoramos com ele, ganhou sua florzinha mesmo sem ser mãe e tenho certeza que alegramos sua tarde naquele dia e que ele também alegrou a nossa, com seu bom humor, apesar da solidão em que se encontrava.
A primeira coisa que pensei quando este tema foi colocado na minha cabeça foi nisso, em como - na falta de nossas mães - decidimos homenagear a mãe dos outros.
Em algumas casas fomos recebidos com a natural desconfiança que o mundo em que vivemos acaba nos cercando, uns vinham ressabiados e outros perguntavam quanto ia custar... mas quando percebiam que era apenas um casal adotando mães nos recebiam em suas casas, nos convidavam para participar da mesa e se não fosse nosso objetivo passaríamos certamente a tarde em boas companhias.
Cidinha e eu ainda temos a felicidade de ter nossas mães bem vivas e tampouco estávamos na solidão daquele senhor, apenas desejávamos ir um pouco além do presente, do cartão do telefonema ou mesmo do tradicional almoço que tivemos com suas lindas filhas.
E é isso que estou propondo, neste final de dia das Mães, que as pessoas aprendam a adotar uma mãe.
Serve para quem já não pode mais contar com a sua neste mundo, serve também para as mães que tem a infelicidade de terem visto seus filhos partirem antes, serve para quem está muito de bem com a vida e quer espalhar sua alegria... na verdade serve a quem quiser.
Adotar uma mãe é fácil, pois mães são pessoas sempre de coração aberto, onde tudo cabe.
Pode ser a sogra, pois apesar de tantas bobagens que falam sobre elas, as sogras são mães da pessoa que escolhemos amar, então porque não ama-las como amamos nossa mãe? Quer coisa melhor que isso?
Pode ser um parente, mas não precisa ser... nem precisa ser uma mãe que esteja sozinha, para adotar mãe não tem regras, precisa apenas a boa vontade.
Sei disso porque adotei várias ao longo da vida, tenho "mães" em vários estados e cidades, mas nunca as assumi, não lembrei de mandar um cartão para elas ou de ligar, mas depois de escrever este texto vou começar a me preparar para fazer isso e nem sei se vou esperar o dia das mães no ano que vem pois para adotar uma mãe não precisa de dia comemorativo, pode ser qualquer dia.
E nem precisa ser uma mãe... há pais com alma de mãe então se encontrar um, trate-o como trataria sua própria mãe e verá como ele vai gostar, aquele senhor a quem demos a flor parecia ser um e gostou que o tratássemos como se fosse uma mãe.
E o que fazer com essa nova mãe?
O mesmo que faz ou fazia com sua mãe, vá visita-la quando achar que ela quer ser visitada (mães SEMPRE querem ser visitadas) ligue pra ela quando achar que deve ou quando achar que você precisa, ou apenas se lembre dela.
Enquanto escrevia comecei a lembrar de algumas das mães que sei que adotei (ou que me adotaram) e para as quais não pensei em ligar hoje ou mandar um cartão, mas não vou esquecer disso no ano que vem.
Por exemplo, a dona Diva, mãe de um amigo de infância, que do alto de seus quase 80 anos está ainda esbanjando saúde e ainda me trata como um filho quando vou a sua casa, exatamente como me tratava quando eu ia na sua casa entre meus 10 e 18 anos.
Ou então a Dona Helena, mãe da mãe de minha única filha, que me tratou por muitos anos como um filho e que até hoje ainda cuida da neta. Para ela eu tentei ligar hoje, mas acho que estava na farra.
Nossa a lista é grande... tem a mãe da Cidinha, que tive o prazer de conhecer e poderia chamar de mãe com a maior facilidade, tem professoras que foram responsáveis pela minha educação e que me cobravam que aprendesse com a mesma paciência que a dona Ignez cobrava que eu não fugisse da escola... bom, na verdade ela não tinha muita paciência com isso, mas nenhuma mãe merece filho fugitivo da escola.
Foram muitas mães, algumas só passaram por um momento e me ensinaram algo, uma receita, um jeito diferente de fazer alguma coisa, ou apenas aparecendo na hora certa... como uma senhora que me viu escondido debaixo de uma marquise com minha irmãzinha caçula no colo, fugindo de um temporal repentino. Ela abriu a porta de sua casa, me deu uma toalha e me acolheu enquanto a chuva caia, como se fosse nossa própria mãe, esta não teria mais como eu encontrar, nem aquela casa existe mais no lugar, mas ela ainda existe em minha lembrança e com certeza isso conta pontos e a torna uma mãe adotiva.
Então... gostou da idéia de adotar mães?
Pois pratique e não espere o dia das mães pra isso, pode começar a praticar todo dia, adote por exemplo aquela senhora simpática que você encontra todos os dias e lhe sorri mas você nunca se perguntou porque ela faz isso, responda ao sorriso e num dia mais inspirado de uma flor a ela e ela saberá que foi adotada, mesmo que não precise.
Não precisa ser orfão para adotar uma mãe e nem ficar esperando uma mãe abandonada pra fazer isso, mães são mães em tempo integral e não apenas para seus filhos, qualquer mãe irá abrigar um outro filho sob seu enorme e espaçoso coração, então faça simplesmente o mesmo com outras mães.
E claro... jamais esqueça da sua, mesmo que ela não se encontre mais entre nós.
A imagem que ilustra o início deste texto é de uma ikebana que fiz especialmente para uma mãe que adotei para sempre e que homenageio especialmente neste dia... ou seja, ela representou todas as mães que adotei e não pude dizer a elas e ao mesmo tempo me fez lembrar que posso dizer em qualquer dia.
Obrigado por ainda me despertar estas coisas tão lindas, você é uma mãe muito especial, Cidinha e te dou os parabéns neste dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário